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quarta-feira, 8 de setembro de 2010

“A Origem”

INCEPTION translated to “A Origem”

POSTADO POR FÁBIO CAIM 08/09/10 

"A Origem" em cartaz nos cinemas de São Paulo, com os atores Leonardo diCaprio, Joseph Gordon-Levitt, Ellen Page, Tom Hardy, Ken Watanbe e outros é muito convidativo àqueles que se questionam a respeito de como nossa mente pensa. 

Parece estranho imaginar que algo assim possa ser colocado em questão, mas é fato que a psicologia, ciências cognitivas, filosofia e a semiótica têm se proposto faz muito tempo a entender essa relação entre pensamento e realidade e pensamento e pensamento. 

De que forma um pensamento pode originar outro pensamento? Será que a realidade é a fonte suprema de todos os pensamentos, de todas as experiências? Um autor celebrado nesta questão é o Steven Pinkerque tem uma produção deveras significativa para a área de ciências cognitivas e livros como: Como a mente funciona (Cia das Letras); Instinto da Linguagem: como a mente cria a linguagem (Martins Fontes); Do que é feito o pensamento (Cia das Letras), entre outros.

O filme faz uma viagem a estas questões. Abre espaço para a compreensão da mente como camadas de mediação. Nada de novo para quem está por dentro da semiótica. Para a semiótica a realidade só pode ser acessada por mediações, por representações, por isso que os nossos pensamentos são representações. Nós representamos a realidade, não temos acesso direto a ele como muitos outros nostálgicos fazem supor. 

Obviamente, o pensamento não está tão livre assim, não é algo desconectado da realidade, ele a representa e para representá-la ele deve ter sua origem na própria realidade. Na semiótica esta origem é chamada de objeto do signo. A ideia de objeto está diretamente relacionada com a ideia de realidade, apesar de este objeto poder ser outro pensamento. 

Voltando ao filme – o storyline apresentado é de um personagem (Leonardo DiCaprio) que consegue roubar segredos da mente de outras pessoas, por meio de seus sonhos. Ele é um especialista neste assunto. Quando surge uma oportunidade de retornar aos EUA sem ser preso (ele é acusado pelo assassinato da esposa), ele aceita um trabalho e forma uma equipe para invadir os sonhos de um grande empresário e depositar nele uma ideia. Ou seja, o objetivo não é mais descobrir um segredo, mas sim plantar uma ideia. 

Uma das figuras mais interessantes da equipe é a Ellen Page, que tem seu personagem chamado de Ariadne (aquela personagem mitológica que conduz Teseu pelo labirinto de Dédalo, onde morava o Minotauro) e que é responsável por arquitetar o ambiente dos sonhos. Ela age como uma designer dando forma e movimento aos cenários produzidos na mente de outro. Mais interessante é que o conteúdo deste cenário é preenchido pelo sonhador. Seu subconsciente é que oferece ao cenário os coadjuvantes. 

Freud foi o grande "descobridor" do inconsciente criando inclusive toda uma linha de pensamento que originou a Psicanálise, que destoa da psicologia, pois leva em consideração a construção do inconsciente e como ele aparece nos mecanismos conscientes da vida do indivíduo.
O inconsciente no filme aparece como subconsciente na fala dos personagens. Segundo Freud o inconsciente seria mais desordenado, sem forma, sem relações aparentes que possam ser interpretadas. O inconsciente só se dá a interpretação quando de alguma forma ele se faz presente à mente: ato falho, chistes, sonhos, neuroses etc.

No filme o inconsciente é estruturado por outro jogador, que fica responsável pela arquitetura ambiental da mente sonhadora. Apesar de achar que não seria o inconsciente esta parte explorada pelos jogadores no filme, ainda assim é interessante a maneira como eles a abordam. 

Para plantar a ideia na mente deste empresário a equipe deve entrar mais fundo no inconsciente, passando por camadas mais submersas. Nestas camadas a relação de tempo é diferenciada da vivenciada na realidade, dando a entender que a mente funciona mais rapidamente e que por isso o tempo é subjetivo neste espaço mental, correspondendo de forma diferenciada ao tempo real. 

O que visualizamos é que o tempo é arbitrário, na medida em que o indivíduo é que o estabelece na sua relação com a realidade. Além disso, as camadas de mediação que apresentam cada vez mais fundo a mente do sonhador são ideias constituintes da semiótica peirceana, na qual a mente é pura mediação. A mente representa a realidade por meio de pensamentos, que só podem ser pensados usando-se outros pensamentos. 

Assim, um pensamento pode ser objeto de outro pensamento, que gerará significados que se transformarão em objetos de outros pensamentos e assim indefinidamente. Portanto, a mente é o lugar desta semiose (ação do signo que se traduz em outro signo assim por diante) e como toda ação, ela é dinâmica, mutante e difícil de controlar, exatamente, porque o inconsciente não sofre restrição ou interferência das convenções humanas. O inconsciente é um universo livre, pleno de qualidades, choques e símbolos, mas sem restrições. Estas restrições são dadas pelo ego que funciona como um censurador. 

O ego é organizado e construído na relação do indivíduo com a sociedade – portanto, pleno de convenções e legi-signos (signos que são leis). A função do ego é barrar o inconsciente na sua liberdade e fornecer ao ego somente aquilo com que ele é capaz de lidar individual e socialmente. Nem sempre esta função acontece da melhor forma. Ou seja, em alguns momentos o inconsciente consegue aflorar à consciência trazendo consigo determinadas informações que não poderiam ser acessadas de maneira controlada. O sonho é uma forma do inconsciente se manifestar e se organizar por meio de representações passíveis de compreensão e dentro de um ordenamento narrativo razoavelmente coerente. 

"A Origem" fornece uma leitura coerente do inconsciente a partir do momento que o organiza em uma arquitetura possível e agradável. Além disso, a relação entre as mentes que entram na mente do sonhador é, também, um caminho provável e potencial segundo os conceitos da semiótica, já que uma mente é sempre um coletivo, uma organização de outras mentes, que se comunicam por meio de signos. 

Concluindo, o filme é inteligente porque aborda temas da psicanálise e da semiótica de uma maneira emocionante, construindo uma narrativa envolvente, porém nada questionadora. O filme é bastante pragmático por oferecer fórmulas de como acessar o inconsciente, conduzindo o leitor por um labirinto, que no final das contas se mostra ainda mais labiríntico, portanto, sem fim.

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